Nós da vida


Não espero nada dos amigos,
apenas a sorte de tê-los comigo.
Não espero nada dos familiares,
a não ser a paz em seus olhares.
Mas espero da lembrança,
sempre rica em cobrança,
momentos de branca lucidez;
trago junto toda a insensatez,
carrego momentos de morbidez;
são poucos, eu sei.
Lembro dos beijos que não dei,
dos abraços pelos quais esperei,
das desculpas que não escutei;
são os nós da vida, já falei.
Uns, têm laços de fita de cetim,
outros, barbantes baratos de botequim.
Importantes ou não,
todos têm o seu nó,
que o tempo vira pó.

A astronauta


Quando criança, transbordava em criatividade e determinação: seria astronauta. As pessoas riam. Ficava confusa: adulto tem algo de desordenado. Queria ver as estrelas de perto e a Terra de longe. Nada mais real e distante.

A Visita


Todos dormem na casa da praia
E eu recebo aqui na sala
O filho de Deus.
A luz baça se incendeia em clarão
É Ele que brilha em Seus elétrons
Muito mais que dez sóis.
Falo-lhe de minha família que dorme
Ele sorri - que durmam
Falo-lhe de José e Maria
Tão lindos no filme de Zefirelli
Ele sorri - agradecido
Falo-lhe da criação do Seu Pai:
A Natureza - falo do sol, da praia,
Da angra serena que ali está
Há tantos milhões de anos
Ele sorri - feliz
Falo da vida, dos sonhos, da fé
Ele sorri - ainda
Aí falo dos homens, das guerras
Que não param, ora aqui, ora ali
Falo das usinas nucleares, ogivas,
Falo de tantos sem nada, outros com tanto
Falo de palácios e barracos
De suítes e de quartos de empregadas
Falo de dietas de baixa caloria e da fome total.
Falo de secas e de enchentes
Falo de segurança, falo de petróleo
Falo de álcool e de vinhoto
Nos rios e lagoas - falo da produção
E do supérfluo,
E aí,
Ele estende Seus dedos para que me cale
E sorri - com lágrimas nos olhos.