É certo


Subirei um dia, é certo,

e, seja lá como for, não me larguem no cemitério,

mas me vistam de amarelo

Doem minhas tralhas para as associações disso ou daquilo

ou para o primeiro par de pés sem chinelo

Subirei um dia, é certo,

vestirei transparente sem ser indecente,

de pensamento aberto e alma deserta, serei

julgada pela vida de dores e sortes diversas, 

pelas sementes plantadas e pelos frutos indigestos

Subirei um dia, é certo,

e por aqui deixarei alguns rabiscos e uma saudade dispersa

Quero saborear do alto a paz de ver meus dois amores felizes,

e saber que dessa felicidade houve uma porção das minhas chatices;

e, caso não haja tempo para as desculpas, pedirei lá do alto

em tons de ternura, pois que fui apenas um ser humano

com erros e acertos como qualquer criatura

Subirei um dia, é certo,

e não levarei amarguras e nem gestos de bravura

No meu caderno de anotações, quero escrever apenas dois verbos - o que

fui e o que fiz - e tirar 10 com louvor ao conjugá-los ao Senhor 

Espero ter agradecido mais do que pedido e, se assim não for, que 

me dêem o castigo merecido, mas que seja leve para essa alma

já tão arrependida

Subirei um dia, é certo,

e terei assim todas as respostas que sempre indaguei, 

que nenhum livro me deu e explicação não obtive de ninguém

Sentirei outras leis da física, vou planar no ar,

estar aqui e acolá sem enjoar

Sairei dessa teia, desses limites físicos, desses desafios

emocionais e de outros tantos dilemas morais

Subirei um dia, é certo,

e confesso que carrego um receio de como será, mas que 

seja rápido e sem medo quando o dia raiar,

que minha carme não doa e que nem sangre à toa

Subirei, é certo




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