
O que me limita é esse cansaço
Cansaço das coisas bobas da vida
e das importantes não-vividas.
Cansaço de ter hora, de passar da hora, de viver sem hora.
Cansaço de saber o que é isto ou aquilo,
se fará sol ou chuva, se me arrisco ou fico parada.
Cansaço, puro cansaço.
Cansaço de ter mais sentimentos e menos sentidos.
Cansaço dos desentendimentos insuportavelmente longos,
dando ao tempo a responsabilidade de resolvê-los.
Coitado do tempo, esse velho senhor que tudo resolve quando passa e que às vezes passa e nada resolve.
Cansaço de ser avaliada sem critério, dessa onda de mistério.
Cansaço de não acreditar
Cansaço de mim mesma
Cansaço familiar – essa corrente umbilical que estica e afrouxa em um ioiô de sentimentos confusos.
Cansaço de ter que ser melhor, igual,
cansaço de ser menor.
Cansaço, tanto cansaço...
Cansaço de guardar na memória tudo o que não posso mais viver.
Cansaço que só não pode me tirar o ofício de escrever,
pois não saberia mais como viver.
Ah cansaço, um dia me levarás,
e aí, descansaremos.